sexta-feira, 24 de agosto de 2012



Eis o governo da "gerente durona" chamada Dilma Roussef (PT): autoridade zero! 

O que têm essas fotos a ver com crime organizado e tráfico de drogas e armas e com a qualidade do ensino da futura enfermeira que se formará na UNIPAMPA e não tem aula há três meses? Tudo! 

E os candidatos dos partidos da base governista, PT, PDT, PP, PMDB, PTB, parecem que vivem noutro país. Só boas intenções e sorrisos. Mas não abrem mão de faturar o que consideram virtudes do governo  da quadrilha que está no Planalto. 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

ABTI x ALL: racha nos transportadores internacionais???

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Será que basta não correr sangue nem haver quebra-quebra para que um movimento seja classificado como "pacífico", como sempre falam os apologistas da desordem, mesmo que desrespeite direitos elementares de toda uma comunidade?


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Alguém já viu um movimento que não se auto denominasse de paz?


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Mas, no Brasil, funciona assim: quando corre sangue, dizem que a culpa foi de uma minoria, dois ou três que teriam destoado do tal espírito da manifestação; quando não corre, os direitos elementares de toda uma comunidade e de cada cidadão são sufocados pelo adjetivo pacífico. 


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Enfim, não tem como protestar sem fechar a Ponte?

terça-feira, 26 de junho de 2012

Está marcada para amanhã, às 10 horas, mais um bloqueio da nossa Ponte Internacional. Desta vez, não será o MST, nem os professores, nem os arrozeiros, nem os chibeiros, nem o pessoal da Receita, nem os camelôs da Baixada que patrocinarão a baderna. Será a Associação Brasileira de Transportadores Internacionais - ABTI. Não há causa, por mais justa, que justifique tal delinquência. A Ponte, pelo que representa, deveria ser sagrada para os uruguaianenses - e às nossas lideranças, sobretudo às do transporte e do comércio internacional. Como naquelas fazendas onde é cultivado um fogo de chão que nunca é apagado, o fluxo de veículos nunca poderia ser cortado. Uma lástima! Mas ainda dá tempo de o MPF ou a PF coibir o anunciado arbítrio de quem, mesmo com tantos contatos no jet set da política nacional, senadores, ministros e deputados que "abrem portas", prefere usar a força para defender os seus interesses.
Não ao vilipêndio do nosso maior símbolo, seja feito por quem for!


PS.: 1) esperem as fotos e vejam quem irá lá se solidarizar ... Em dois ou três papagaios-de-pirata, posso apostar! 2) corrigido às 12h40 de hoje.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Paulo Pimenta e DilmaSaiu no Ponto Livre, do jornalista Wolmer Jardim:

Deputado explica sumiço da boiada
Paulo Pimenta confirma a a diminuição do rebanho, mas diz que isto aconteceu porque optou por ter menos animais, porém com mais qualidade, o que, na sua visão, deixa a cotação do rebanho nos mesmos patamares. “Ninguém deixou de pagar nada e não houve qualquer dolo”, assegura o parlamentar petista, que agora aguarda pela decisão da Justiça. Ele nega ainda ter negócios com seu primo Antonio Mário Pimenta, o Maíco. Maíco é acusado de ser “laranja” de Paulo de de haver caloteado o pagamento de grandes quantidades de arroz em São Borja, em operações feitas através da Cerealista Beira-Rio, de sua propriedade.


Mas como prosperam esses petistas!!!

sábado, 2 de junho de 2012

Aqui é assim?

O bom de ter um blog é que não se tem patrão. Outro dia, o Wolmer Jardim me cobrou a falta de atualização. Como se não fosse negligência minha, lamentei tanto quanto ele, que daqui uns dias estoura aí com o dele - Ponto Livre, acho que é o nome. (Tomara que tenha se curado dos delírios de ver como forte candidato a prefeito um de jaleco branco - e rosa socialista no peito ... oxalá!) Hoje essa legenda do Rio Grande que atende por Chiquinho Duarte, o Dr. Francisco Duarte Amaral Neto, me comentou sobre o artigo que o ex-deputado Jarbas Lima publicara no Correio do Povo sobre a filha que perdeu há uns 50 dias. Eu, que leio Correio todos os dias, como obrigação herdada (tenho uma parente que em 1986, como fazia quando, criança, aprendera a ler, lia o Correio ao pai - morto em 1952 -, na frente do seu retrato), não tinha lido tal artigo. Vai aí. Perdeu a atualidade? Claro que não.
Acho que Pedaço de Mim, de Chico Buarque, que nunca mais foi o mesmo, é a melodia que cabe.

Perdi minha filha Gisela

Jarbas Lima

Perdi um pedaço de mim e da Jane. Perdemos muito da alegria de viver. A perda da Gisela nos feriu profundamente. Ela era muito especial, doce, meiga, carinhosa, frágil, delicada. Era como uma graça de Deus. Era destas criaturinhas que gostam mesmo dos pais, tinha por natureza continuar criança, ser abraçada, protegida. Era sensível, pequena, uma bonequinha que não perdia a doçura. Era esposa, mas não queria deixar de ser o nenê dos pais. Era mãe dedicada, mas não renunciava o direito de filhinha mimada. Que saudades minha filhinha! Você, Gisela, inverteu a ordem natural da vida, foi-se antes de nós, deixou-nos quando a hora era mais nossa de partir. Não aproveitou a família maravilhosa que constituiu. Você partiu do tempo do convívio de tuas colegas da Creche "Cejuquinha", das crianças que você amava como filhos e elas nunca deixaram de retribuir. Você, minha filhinha, fez e deixou amigos verdadeiros. Eu queria que você viajasse, passeasse, mas você se foi! Dói, boneca, dói muito!
São os filhos, quando Deus nos ajuda, que nos imortalizam, por gerações e pelo tempo. Os filhos são, por natureza, proteção e fortaleza dos pais. Os filhos se ligam a nós pelo respeito e pela doçura. O paraíso dos pais, é natural, vai do berço, à vida adulta dos filhos. Os corações dos pais parecem trocar de corpo. Os filhos perdem os pais.
Gisela, minha filhinha, está doendo muito! Pensei como meu pai que homem não chora. Chorei sim. Estamos, com a tua mãe, chorando muito, a dor e o sofrimento para dentro, profundo, incontrolável. Dor que sufoca. Dor só compreendida por quem padece. Na dor ficamos crianças, nestas horas é bom ter a família, os amigos ao nosso lado. Quem não sofreu, nada sabe. Seus laços são mais estreitos que os da felicidade. Só a dor é real. A dor não dorme. A dor não fala. A dor só se processa no silêncio. Como Arthur de Azevedo, Gisela, minha boneca, quando beijarmos teu túmulo, beijaremos, eu e tua mãe, a nossa própria sepultura. Logo estaremos contigo. Agradecemos ao dr. Telmo Reis o carinho e a competência. A Victória e o Pedro, teus filhos, o André, teu esposo, nos confortamos na tua lembrança.
professor de Direito


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Vi no facebook que o médico Lourival Gonçalves, pré-candidato a prefeito pelo PDT (ou a vice do PP), teria se prestado a sortear uma consulta gratuita no programa de rádio da vereadora Josefina Soares (PP), dia desses. Nada contra o que o presidente da UNIMED faz nas horas de ócio. Nem a quem escolhe como interlocutor de suas ideias. Nem ao valor que dá à sua sapiência médica. Não conheço e me dá preguiça ler códigos que regulamentam profissões, reservas de mercado que cheiram ao tempo das corporações de ofício, da Idade Média, mas creio que o de Ética Médica também vete tal conduta (a legislação eleitoral, garanto que veta). Em geral, fixam um valor mínimo para uma consulta. De graça, não, nunca. Seria concorrência desleal, aviltamento da profissão, ainda mais se anunciado publicamente etc. O curandeiro não pode cobrar e o médico não pode fazer de graça, é mais ou menos este o princípio. E olha que o Código de Ética Médica não foi escrito por curandeiros!


PS.: a manchete do jornal Cidade trata doutro fato, não deste ...  

quarta-feira, 16 de maio de 2012

É grande o texto abaixo, do Vitor Vieira, mas muito elucidativo ...


LULA AMPARADO NO PLANALTO - OS SIGNIFICADOS EM UMA FOTO
Os ex-presidentes da República compareceram na manhã desta terça-feira no Palácio do Planalto, a convite de Dilma Rousseff, para a solenidade de assinatura da instalação da Comissão da Verdade. Prestem atenção na fotografia da descida da rampa interna do Palácio do Planalto. O presidente Lula vem na frente, amparado de um lado pela presidente Dilma, e do outro lado pelo clone de chanceler Marco Aurélio "Top Top" Garcia. Qual a justificativa para "Top Top" Garcia aparecer nessa foto? Afinal, ele não é ex-presidente. Ele está ali para também ajudar a amparar Lula, que apresenta uma nova doença, neurológica, que deixou seu pé esquerdo "bobo", sem comando, como seqüela do tratamento pela quimioterapia. Lula está usando uma bota ortopédica no pé esquerdo para conviver com o "pé bobo". Mas, além disso, qual outra justificativa para "Top Top" Garcia aparecer na foto? Ah..... tudo tem seu significado no mundo da esquerda. Marco Aurélio "Top Top" Garcia foi dirigente do POC (Partido Operário Comunista) no Rio Grande do Sul, na segunda metade da década de 60. O POC é originário da fusão de uma dissidência do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) com a minúscula organização trotskista Política Operária (conhecida como POLOP). Dilma, no início de sua militância "revolucionária" comunista, foi membro da POLOP mineira. Marco Aurélio "Top Top" Garcia "se mandou" de Porto Alegre, largando partido, companheiros, casa, tudo, no fim da década de 60, quando começaram a ser presos membros do POC. O primeiro a ser preso foi o dirigente Luiz Paulo Pilla Vares, jornalista da RBS (Marco Aurélio "Top Top" Garcia já tinha trabalhado no jornal como editor de Internacional). No DOPS (antigo Departamento de Ordem Política e Social), o delegado Pedro Seelig não precisou nem encostar um dedo no dirigente trotskista. Bastou a ameaça de ir buscar a esposa na época do jornalista. Ali a polícia política ficou sabendo tudo sobre a estrutura organizacional do POC. Eu fui o responsável, na época, para conversar como Luiz Paulo Pilla Vares na redação de Zero Hora, tão logo ele chegasse ao jornal, após ser libertado por interferência pessoal do dono do jornal, Mauricio Sirotski, que foi até o DOPS buscá-lo. Eu devia passar as informações para o partido. E passei. Recado de Luiz Paulo Pilla Vares: a polícia já sabia tudo sobre o POC e seus dirigentes. No mesmo dia o bravo dirigente Marco Aurélio "Top Top" Garcia "se mandou" de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e do Brasil. Ele pegou sua mulher, Elisabeth Souza Lobo, e "se mandaram". Nas rodinhas em Porto Alegre comentava-se que ela partira se lamentando: "Ai, meus canapés....". Tratava-se do sofás de cana da India que ela havia acabado de instalar na casa em que moravam, na rua Barros Cassal (na quadra entre a Avenida Independência e Alberto Bins). Elisabeth Souza Lobo também deixou "órfãos" os seus estudantes de marxismo, jovens universitários militantes do POC, que faziam com ela sua instrução teóricio-revolucionária. Entre eles (além de mim), minha colega de sala de aula no Curso de História da Faculdade de Filosofia da UFRGS, Elisabeth Garcia, na época mulher de Jorge Mattoso (aquele que presidiu a Caixa Econômica Federal e comandou a operação de arrombamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos). Elisabeth Souza Lobo usava como material o manual de marxismo da revolucionária comunista chilena Marta Harnecker (hoje, Marta Harnecker dirige em Cuba o Centro de Recuperação e Difusão da Memória Histórica do Movimento Popular Latino-americano; ela é viúva de Manuel "Barbaroja" Piñero Losada, falecido em 1998, e vive em Havana desde 1974; ela também é mentora ideológica do Foro de São Paulo, do MST e de militantes como Emir Sader, Frei Betto e muitos outros petistas seus conhecidos; ela escreveu mais de meia centena de livros e o seu livro sobre o marxismo "Los Conceptos Elementales del Materialismo Histórico", foi fonte de orientação para várias gerações de alienados estudantes esquerdistas latino-americanos; hoje, Marta Harnecker dirige em Cuba o Centro de Recuperação e Difusão da Memória Histórica do Movimento Popular Latino-americano, que é, na realidade, um órgão de orientação político-ideológica para as ONGs que atuam na seara da “sociedade civil organizada”, integrando o novo “bloco histórico”, em oposição às classes dominantes, na visão gramsciana; seu marido, Manuel "Barbaroja" Piñero Losada, foi o grande articulador dos movimentos guerrilheiros latino-americanos, entre os quais os “rodriguistas” da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR) e os “miristas” do Movimento de Izquierda Revolucionaria (MIR). O "livrinho" de Marta Harnecker, uma porcaria ideológica de quinta categoria, era o material usado por Elisabeth Souza Lobo para a doutrinação dos jovens militantes do POC. Marco Aurélio "Top Top" Garcia posava como um dos grandes intelectuais do POC, especialista na obra do comunista trotskista francês Louis Althusser (este "humanista", em um acesso de fúria e loucura, matou a sua mulher Hélène Rytmann, uma revolucionária de origem judaico-lituana, oito anos mais velha; ela foi sua companheira até 16 de novembro de 1980, quando foi estrangulada pelo próprio Althusser, num surto psicótico). No seu doce exílio em Paris, Marco Aurélio "Top Top" Garcia, então dirigente da 4ª Internacional trotskista, em pleno 1974, organizava o envio de companheiros para a América Latina, para que participassem das atividades armadas do grupelho argentino ERP (Exército Revolucionário Popular). Assim foram mandados para lá os militantes e dirigentes do POC gaúcho Flavio Koutzii e Maria Regina Pilla. Em Paris, na 4ª Internacional, Marco Aurélio "Top Top" Garcia e Jorge Matoso conheceram um sinistro trotskista argentino, de codinome Luis Favre. Na verdade, esse personagem se chama Felipe Belisario Wermus. Favre foi criado em um conventillo (cortiço), em Buenos Aires, filho de operários de origem judaica, simpatizantes do peronismo. Autodidata, nunca chegou a concluir o secundário. Foi expulso da escola aos 17 anos, por ter liderado uma greve de secundaristas. Na ocasião, militava no grupo trotskista Politica Obrera (atual Partido Obrero, fundado por seu irmão, José Saul Wermus (mais conhecido pelo pseudônimo Jorge Altamira). Até os 20 anos, Favre viveu em Buenos Aires, onde trabalhou como gráfico, metalúrgico e contínuo, mas sua atividade primordial era a política. Foi detido oito vezes. Na iminência de ser condenado a mais de um ano de prisão, fugiu da Argentina de navio. Mudou-se para a França, estabelecendo-se em Paris, onde passou a trabalhar na gráfica de uma das facções da Quarta Internacional. Subiu na hierarquia da organização e acabou sendo eleito para a direção, tornando-se responsável pelos grupos latino-americanos e supervisor da seção brasileira, cuja tendência estudantil, Liberdade e Luta (Libelu), teve projeção nos anos 1970 e no início dos 1980. Casou-se com uma francesa, Marie Ange, com quem teve um filho, Flavio. Naturalizou-se francês, mas não abdicou da cidadania argentina. Para acompanhar mais de perto os 1.500 trotskistas brasileiros, Favre mudou-se para São Paulo em 1985, com sua segunda mulher, a americana Alexandra, com quem teve dois filhos, Tristan e Fabrice. Na segunda metade da década de 1980, passou a criticar a tendência de Pierre Lambert na Quarta Internacional. Favre defendia que a seção brasileira se diluísse no Partido dos Trabalhadores, agrupando-se sob a liderança de Lula e de sua tendência interna, a Articulação. A posição de Lambert, entretanto, foi adotada oficialmente pela organização. Em 1987, Favre liderou uma cisão da Quarta Internacional. Com a cisão consumada, a seção brasileira da Quarta Internacional praticamente acabou pois a maioria dos seus integrantes tornou-se petista. A minoria, agrupada em torno do jornal "O Trabalho", manteve relações com a Quarta Internacional. Favre também acabou deixando a organização para se filiar ao PT. Desde 1986, tornara-se assessor do Secretariado Nacional de Relações Internacionais do PT, atendendo a vários eventos internacionais como representante oficial do partido. Separou-se de Alexandra no final dos anos 1980, passando a viver com Marília Andrade, filha de um dos proprietários da Andrade Gutierrez, uma das maiores empreiteiras brasileiras. Marília e seu irmão Flavio eram donos da Editora Joruês e da "Gazeta de Pinheiros", jornal de bairro paulistano do qual Favre foi editor-chefe. Em 1992, após a morte trágica de uma das filhas de Marília, o casal mudou-se para Paris e acabou por se separar, ainda em 1992. Favre continuou a viver em Paris, trabalhando numa empresa de comunicação, a Tiempo, que fazia projetos gráficos de manuais e catálogos e os imprimia na Espanha. Depois, com sua nova mulher, a francesa Sophie Magnone - com quem tem um filho, Lucas - montou sua própria empresa de comunicação gráfica, a Optei, sempre em Paris. Nesse período, Favre não se afastou do PT. Organizou, com a Secretaria Internacional do partido, encontros de dirigentes petistas, inclusive Lula, com ministros e parlamentares do Partido Socialista Francês, do Partido Comunista Francês e dos Verdes. Nesse contexto, conheceu Eduardo e Marta Suplicy. Favre foi apontado como pivô da separação de Marta e Eduardo Suplicy, em 2001. Em 2003, logo após a oficialização do divórcio, casou-se com Marta, de quem se separou em 2009. Luis Favre tem um grande rol de amigos. Entre eles está o jornalista Paulo Moreira Leite, que foi um militante da Libelu quando estudava na USP. A rede é grande e internacional. Assim, a presença de Marco Aurélio "Top Top" Garcia no pelotão que desceu a rampa interna do Palácio 
do Planalto não foi apenas para segurar o braço de Lula e dar segurança ao seu andar cambaleante, mas especialmente emblemática, para dizer à "rede" sobre a amplitude da cerimônia, e das consequências que ele e parceiros imaginam para a Comissão da Verdade. Uma coisa é certa: Marco Aurélio "Top Top" Garcia não tem qualquer história pessoal para revelar à Comissão da Verdade, em face da espantosa coragem que exibiu no final dos anos 60 e da pressurosa escafedida que cometeu.

sexta-feira, 11 de maio de 2012


A gangue do guardanapo

Contardo Calligaris, Folha de SP

A FOTOGRAFIA da semana, para mim, é a de Fernando Cavendish (dono da Delta) e Sérgio Cabral (governador do Rio), com outros políticos e empresários, alegres além da conta, todos arvorando um guardanapo branco amarrado na cabeça -isso, num restaurante de Paris (o do hotel Ritz, ao que parece), em 2009.
A cena me lembra um caso recente. Um casal de brasileiros frequenta habitualmente um restaurante de Manhattan, porque o lugar é simpático e porque o maître também é brasileiro. Uma noite, no dito restaurante, uma mesa acomoda um grupo especialmente barulhento de mais oito brasileiros: os homens competem clamando seus pedidos de vinhos caros, e as mulheres competem gritando as compras do dia.
O maître recebe o casal de "habitués" pedindo em voz baixa: "Por favor, não vamos falar português, prefiro que eles não saibam que somos brasileiros".
É difícil assumir a brasilidade quando, na boca dos emergentes, o "brado retumbante" é o barulho de quem ambiciona se apresentar ao mundo pelo chacoalho do trocado que tem no bolso.
A mobilidade social brasileira é rapidíssima: em uma geração, criam-se fortunas (com ou sem a cumplicidade do poder público corrupto). Nesse ritmo acelerado de ascensão social, os novos ricos, em regra, adotam o luxo como puro símbolo de status, sem o tempo de elaborar uma cultura que lhes permita apreciá-lo. Com isso, escreveu justamente Elio Gaspari (Folha de 2/5), tentando ser chiques, eles são bregas: sua ostentação revela a falta de um gosto próprio e a vontade de ocultar sua origem recente.
Os novos ricos se envergonham de seu passado mais humilde e tentam ocultá-lo num agito fanfarrão que, justamente, revela aquela procedência que eles gostariam de espantar. Enquanto isso, os outros, como o maître de Manhattan, envergonham-se dos privilegiados de seu país.
Mas tudo isso não nos diz ao que vêm, na festa de Cavendish e companhia, os lenços na cabeça.
Para quem não viu a foto: são guardanapos dobrados em triângulos, cuja base é amarrada ao redor da testa, de modo que o pano recaia sobre os cabelos e a ponta seja eventualmente segurada na nuca. Ou seja, são bandanas.
Pioneiros, vaqueiros e bandeirantes a caminho do Oeste usavam uma bandana, que, ao redor do pescoço, servia para proteger a boca da poeira e dos insetos ou, amarrada de baixo do chapéu, estancava o suor. Antes disso, o mesmo lenço segurava o cabelo dos piratas. Depois disso, nos anos 1960 e 1970, ele segurava o dos motoqueiros rebeldes da contracultura.
A bandana é, tradicionalmente, um apetrecho de quem se engaja (real ou metaforicamente) no vento e na poeira dos caminhos menos percorridos. O ideal do cowboy, do "easy-rider", do aventureiro, do pirata, do surfista errante ou do roqueiro pode se encarnar em usuários mais sedentários, mas não menos ousados -à condição, claro, que eles precisem segurar o cabelo (é o caso, por exemplo, dos chefes de cozinha de hoje). Mas como esse mesmo ideal se encarnaria nos clientes brasileiros do Ritz de Paris?
Talvez a bandana da foto de Cavendish, Cabral etc. seja apenas uma versão da gravata na testa daqueles primos bêbados, que, no fim de uma festa de casamento, escolhem mostrar a todos os outros ("inibidos", "caretas" e "obviamente" invejosos) que eles, sim, sabem se divertir e são os verdadeiros heróis do hedonismo -os que não recuam diante do prazer. Isso, claro, até eles vomitarem num canto (conselho: nunca fique num casamento depois da saída dos noivos).
Ou talvez Cavendish, Cabral etc. achem que eles são mesmo os novos "easy-riders", cowboys ou bandeirantes. Mas qual é, então, sua aventura? Em que jornada eles precisam segurar o cabelo para correr livres no vento?
O guardanapo branco do Ritz é uma curiosa bandana: ele diz que a aventura desses pretensos aventureiros é apenas a de esbanjar seu privilégio (mais ou menos legal), sonhando em ser o objeto da inveja de todos. Em síntese: o guardanapo do Ritz é a bandana perfeita para quem quer surfar nas costas dos bananas (que seríamos nós).
Elio Gaspari prometeu uma viagem a Dubai para quem explicasse as bandanas do grupo de Cavendish etc. Se ajudei, renuncio desde já à viagem oferecida. Receio encontrar, em Dubai, o mesmo pessoal do Ritz ou seus amigos. Prefiro que Gaspari me convide para um jantar qualquer. Aliás, nem precisa me convidar. Mas o jantar é sem bandanas, ok?

quarta-feira, 9 de maio de 2012


O site UOL fez hoje esclarecedora entrevista com o promotor Roberto Wilder Filho, que atuou no Caso Celso Daniel - esse assombrado cadáver ainda será o ponto de partida dos historiadores que se dedicarem à época em que o petismo, despacito, tomou conta da cultura, das universidades, da imprensa e, por fim, quando estava tudo dominado, assaltou o Estado brasileiro. (Como quem rouba de caminhão!) Lembro quando Tarso Genro, sempre vitimista, no dia do crime, que aconteceu poucas semanas depois da morte do prefeito de Campinas/SP, o Toninho do PT, deu entrevista alertando para o perigo de estar surgindo no Brasil algum movimento voltado ao "deliberado extermínio de lideranças populares, de oposição", e de que nos tornássemos uma nova Colômbia (que vivia em guerra civil e ainda não havia se limpado das FARC). Nada disso. Tratava-se de um mero exercício da retórica diversionista do nosso intelectual querendo esconder uma mera queima-de-arquivo. Ou algum petista ainda ousa não reconhecer que a roubalheira campeava solta em Santo André? Alguém ainda fala em crime político? Alguém ainda quer investigar ou faz patéticas passeatas pedindo Justiça? Aliás, a ânsia investigatória dos petistas tem dois momentos: Antes e Depois de Celso Daniel. Ou não? Outra coisa: ninguém vai homenagear o companheiro morto? Tantos viraram heróis da Pátria nesses últimos anos, livros, minisséries, filmes ... Serão esse silêncio e esse desinteresse frutos da tal ética da bandidagem, companheiros?!
UOL - Qual a tese do Ministério Público para a morte de Celso Daniel?
Roberto Wider Filho - 
O que nós apuramos foi a participação do Sérgio Gomes da Silva [o Sombra, amigo de Celso Daniel], que já era apontado em Santo André como o encarregado por um esquema de corrupção e concussão na prefeitura. Identificamos um elo entre esse esquema e a morte do Celso Daniel. O Sérgio foi um dos mandantes da morte em decorrência de um desarranjo no esquema de corrupção. A morte do ex-prefeito foi a mando, não foi um homicídio aleatório, como diz a Polícia Civil. Para a polícia, o sequestro foi aleatório: escolheram qualquer um na rua e por azar pegaram o prefeito. Isso ficou completamente descaracterizado na investigação e na Ação Penal que se seguiu. Verificamos que o Sérgio participou e que o crime foi premeditado.

ENTENDA O CASO

Celso Daniel foi encontrado morto em 20 de janeiro de 2002, em uma estrada de terra de Juquitiba, após receber 11 tiros. A morte ocorreu dois dias depois de ter sido sequestrado no trajeto entre uma churrascaria na capital e Santo André.

No momento do sequestro, o ex-prefeito estava dentro de seu carro, que era blindado,acompanhado do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, seu amigo e segurança, que dirigia o veículo. Os sequestradores fecharam o carro de Daniel com outros três veículos e levaram apenas o ex-prefeito, deixando Sombra no local. Antes de matar o ex-prefeito, os sequestradores o mantiveram em cativeiro na favela Pantanal, na divisa entre São Paulo e Diadema.

O caso já foi reaberto duas vezes, investigado pelo Ministério Público, pela Polícia Civil e até pela CPI dos Bingos, em Brasília. Investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) concluiu que seis pessoas participaram do crime, entre elas um menor. Para a polícia, os acusados sequestraram Daniel por engano, já que estavam planejando o crime contra outra pessoa.

O Ministério Público contraria a versão policial e sustenta que amorte foi encomendada por uma quadrilha que atuava na Prefeitura de Santo Andréextorquindo empresários com objetivo de arrecadar dinheiro para campanhas eleitorais do PT. Para o MP, a investigação policial foi incompleta e não apurou quem foram os mandantes do crime, que para a promotoria foi Sombra, um dos líderes do esquema.

Segundo o MP, Daniel foi morto ao perceber que o dinheiro desviado pela quadrilha também estava sendo utilizado para oenriquecimento dos integrantes, e não só para fins partidários, e decidir impor limites à atuação da quadrilha.

Pelo menos sete pessoas, entre testemunhas e outros envolvidos no crime, morreram após a morte do ex-prefeito --sete delas vítimas de homicídio. O único condenado --a 18 anos de prisão-- pela morte de Daniel foi Marcos Bispo dos Santos. O júri de Sombra deve ocorrer ainda este ano. O MP denunciou seis pessoas, entre empresários e secretários de governo, por participação no esquema de corrupção, mas a Justiça rejeitou as denúncias.
UOL - Por que, então, a investigação policial concluiu que ocorreu crime comum?
Wider Filho -
 A apuração policial foi muito útil porque identificou a quadrilha responsável pela morte, que é a da favela Pantanal [na divisa entre São Paulo e Diadema] --são os que vão ser julgados agora. Mas a investigação se encerrou prematuramente. Eles não avançaram na investigação até para verificar se a versão dos integrantes da quadrilha era correta --e não era. Os integrantes da quadrilha disseram que perseguiram o empresário desde o Ceagesp [zona oeste de São Paulo]. Quebramos o sigilo telefônico da quadrilha e verificamos que não houve essa perseguição, que os integrantes ficaram o tempo todo na avenida Dr. Ricardo Jafet [zona sul]. A Polícia Civil sequer analisou o exame necroscópico do prefeito. Um adolescente admitiu ter sido o executor da morte, e foi feita até reconstituição, mas sem que houvesse o exame de corpo de delito. Pedimos o exame do cadáver do prefeito, para confirmar se a versão do adolescente batia com as agressões no corpo do prefeito, e o laudo de exame necroscópico. Havia incoerências grandes. Ouvimos esse adolescente várias vezes, e, no final, ele admitiu que não foi o executor. A polícia aceitou passivamente a confissão dos integrantes da quadrilha. Não se aprofundou nos verdadeiros motivos e razões da morte.
UOL - Como foram as tentativas de reabertura das investigações policiais?
Wider Filho - 
Nós tentamos contar com o apoio da polícia durante todo o tempo. Fizemos uma investigação preliminar e, logo que essa investigação apontou novos elementos, fomos no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Foi instaurado um inquérito complementar e nomeado um novo delegado, o Luiz Fernando. Começamos a fazer diligências em conjunto, mas o DHPP sempre mostrou uma resistência muito grande. Chegou ao ponto de testemunhas levadas pelo MP serem intimidadas no DHPP. Parece-me que a Polícia Civil insiste na tese de crime comum por uma questão de honra, para provar que a tese deles estava certa. Em nenhum momento dissemos que a investigação estava errada, mas ela foi interrompida antes da obtenção dos resultados mais importantes.
UOL - A investigação do MP detectou o envolvimento de pessoas ligadas ao PT no planejamento da morte de Celso Daniel?
Wider Filho - 
Identificamos o Sérgio [Sombra] como sendo um dos mandantes. Embora existam indícios da participação de outras pessoas na quadrilha de Santo André, não conseguimos aprofundar as provas e não tivemos elementos para oferecer denúncia contra elas. Se não consegui prova suficiente para oferecer denúncia, não posso imputar nada contra essas pessoas. Seria uma irresponsabilidade minha.
UOL - O senhor acha que essa investigação precisa ser retomada pela polícia?
Wider Filho - 
Existem algumas questões que podem ser investigadas. Depois da conclusão do inquérito complementar, fizemos outro pedido, tempos depois, para a retomada do caso. Foi indicada a delegada Elisabete Sato, na época do 78º DP (Jardins). Pedimos que fossem feitas nove diligências. Também a doutora Sato, prematuramente, relatou o inquérito --com uma posição surpreendente, cometendo vários erros no relatório, um trabalho que não é do histórico dela-- reafirmando a tese do DHPP. Nós acreditamos que houve uma pressão do DHPP para que ela fizesse isso, porque a investigação dela caminhava num rumo bom. Entre outros elementos na investigação dela, colheu-se provas de que dinheiro de corrupção foi encontrado dentro do apartamento do Celso Daniel. Isso era uma prova relevante que demonstrava esse desarranjo no interior da quadrilha.
UOL - Como funcionava o esquema de corrupção em Santo André? Qual a ligação da quadrilha com a morte do ex-prefeito?
Wider Filho - 
Existia uma quadrilha que fazia arrecadação destinada a financiamento de campanhas eleitorais do PT. Em um determinado momento, Celso Daniel descobre que boa parte desses recursos eram desviados para o enriquecimento pessoal dos integrantes dessa quadrilha. Com isso, ele não concordava. Havia secretários do PT, filiados ao partido, que eram integrantes da quadrilha, mas a investigação para outros integrantes do partido foi cerceada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que impediu que a gente investigasse o José Dirceu, o Gilberto Carvalho e a destinação final desses recursos. Nós não podemos investigar, nem a Polícia Federal, que era a instância competente. Depois eu tentei retomar essa investigação e o ministro Eros Grau, também atendendo a uma reclamação do José Dirceu, impediu. Então a gente nunca conseguiu fazer essa investigação. Portanto, não posso falar nada sobre o que eu não investiguei. Mas existe uma reclamação nossa no STF para investigarmos o José Dirceu que ainda não foi julgada.

Envolvidos que morreram ao longo das investigações

Dionísio Aquino Severo - Suposto sequestrador de Celso Daniel e uma das principais testemunhas no caso, foi morto por uma facção rival antes de ser ouvido sobre o crime
Sergio 'Orelha' - Teria escondido Dionísio após o sequestro. Foi fuzilado em novembro de 2002
Otávio Mercier - Investigador da Polícia Civil que telefonou para Severo na véspera da morte de Daniel, foi morto a tiros em sua casa
Antonio Palácio de Oliveira - O garçom que serviu Celso Daniel na noite do crime morreu em fevereiro de 2003 após ser perseguido em sua moto
Paulo Henrique Brito - Testemunhou a morte do garçom e foi morto com um tiro nas costas, 20 dias depois
Iran Moraes Redua - O agente funerário foi o primeiro a identificar o corpo de Daniel e chamou a polícia. Morreu com dois tiros em novembro de 2004
Carlos Alberto Delmonte Printes - Médico-legista que constatou indícios de tortura ao examinar o corpo de Daniel
UOL - O que foi esse “desarranjo na quadrilha” que o senhor menciona?
Wider Filho - 
Quem levava o dinheiro da quadrilha para o partido era o Gilberto Carvalho. Quem arrecadava era o Ronan Maria Pinto [empresário do ramo de transportes e das comunicações] e o Sérgio [Sombra]. De repente, o dinheiro foi parar no próprio apartamento do Celso Daniel, o que demonstra como ele tinha desconfiança do funcionamento daquela quadrilha. Para ele, o dinheiro deveria ter como destinação exclusiva o financiamento de campanha eleitoral. Ele continuou arrecadando, mas o dinheiro não circulava como anteriormente. Essa investigação foi realizada pela Elisabete Sato, e, infelizmente, não teve prosseguimento. Existem outros elementos a serem investigados e aprofundados, inclusive com relação a outros mandantes, mas, fora o cerceamento que houve no Supremo, nós também tivemos problemas com a polícia.
UOL - Além do DHPP, mais alguém fez pressão sobre a Polícia Civil para não investigar o caso corretamente?
Wider Filho - 
Houve uma interferência muito grande do então deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT). Ele foi indicado pela Comissão de Direitos Humanos do Congresso para acompanhar a investigação. E o que ele desenvolveu na investigação não foi um acompanhamento passivo. Temos notícias de que, inclusive, ele orientava parentes de Celso Daniel a como prestar depoimento. Então isso é uma interferência censurável. Eu acho que o partido não deveria colocar um deputado para fazer um acompanhamento com o intuito de desviar o foco da investigação.
UOL - Sete testemunhas da morte de Celso Daniel foram mortas. Como foram as investigações desses crimes? Os autores foram presos?
Wider Filho - 
Algumas dessas mortes têm uma relação bem próxima do caso, principalmente a do Dionísio [Aquino Severo, um dos sequestradores do ex-prefeito], que fugiu da delegacia de Guarulhos em data próxima da morte do Celso Daniel. Depois do crime, ele foi recapturado em Taboão da Serra (SP) e declarou para o delegado Romeu Tuma Júnior que, sobre o caso Celso Daniel, só se manifestaria em juízo. Dias depois, ele foi assassinado no CDP (Centro de Detenção Provisória) da Penha enquanto estava no parlatório com o José Edison da Silva, um dos integrantes da quadrilha que nunca prestou depoimento para nós e é um elo importante do caso. Os dois estavam no parlatório, só os dois, quando os presos se rebelaram e mataram o Dionísio. Houve a identificação dos presos que participaram da morte dele --eu mesmo ofereci denúncia. A morte estava relacionada com uma organização criminosa [PCC], e a ordem vinha da facção, e a investigação da polícia não avançou, não foi para cima, só limitou a identificar entre os detentos aqueles que participaram. O curioso é que, uma semana depois da morte do Dioniso, ligaram para o Ivan Rodrigues da Silva, o chefe da quadrilha da favela do Pantanal, e perguntaram se era pra matar o José Edison também. É uma questão curiosa: por que o Ivan mataria um integrante da quadrilha dele, sendo que os dois participaram do homicídio do Celso Daniel? Acredito que essa morte tenha relação direta com a morte do ex-prefeito, mas não houve uma apuração nesse sentido.
UOL - A quadrilha da favela do Pantanal pertencia ao PCC (Primeiro Comando da Capital)?
Wider Filho - 
A quadrilha não era do PCC. O chefe [Ivan] tinha ligações com o PCC, mas não era integrante da facção.
UOL - E as outras mortes de testemunhas?
Wider Filho - 
A segunda morte que tem uma ligação é do Sergio “Orelha”, que foi quem recebeu o Dionísio logo após a fuga da prisão. O Dionísio participou de uma reunião em que ele mencionou que iria participar do sequestro do Celso Daniel e que o Sérgio [Orelha] iria colaborar. Ele disse, inclusive, que o pagamento seria feito no momento do sequestro, com uma bolsa de dinheiro. Essa referência da bolsa com dinheiro depois foi confirmada em uma diligência feita pela CPI dos Bingos. Os senadores Magno Malta e Eduardo Suplicy ouviram uma testemunha que narrou que depois do arrebatamento do prefeito alguém retornou até o carro, abriu a porta de trás, pegou a bolsa e saiu. O corpo do Sérgio Orelha foi colocado dentro de um veículo que foi queimado. Não se apurou a autoria desse crime. As outras mortes não tem um vínculo direto com a execução do crime. São mortes de testemunha, como um investigador de polícia que manteve um contato muito longo por telefone com o Dionísio na véspera do crime. Nós o ouvimos e ele disse que não tinha nenhuma relação com a morte do Celso Daniel. Ele foi morto um mês depois.
UOL - O senhor acha que nesse júri algum dos acusados pode revelar alguma novidade?
Wider Filho -
 Eles já foram ouvidos muitas vezes. Nós mesmos os ouvimos diversas vezes porque queríamos esclarecer detalhes. Quando eles confessaram o crime, havia coisas muito obscuras, controvertidas, na confissão. Depois eles foram ouvidas pela CPI mais de uma vez, assim como pela Polícia Civil. Acho muito pouco provável que elas tragam para o plenário uma questão nova. Até acho que eles têm informação, principalmente o José Edison, mas a vontade deles de falar sobre o caso já foi bem determinada nas oitivas que fizemos.
UOL - O MP investigou algo sobre a morte do perito Otávio Mercier, que disse que o Celso Daniel foi torturado antes de ser morto?
Wider Filho - 
O depoimento do perito foi muito importante para a instrução do processo. Em primeiro lugar, ele fez um laudo, e houve uma dificuldade enorme para obtermos o próprio laudo que ele produziu. Esse laudo só foi juntado ao processo depois que os promotores participaram da investigação e mesmo assim com muita insistência. O laudo menciona que o Celso Daniel sofreu torturas, mas não deixa bem claro a espécie de tortura que ele sofreu. Depois, ouvindo o perito, ele consegue descrever a dinâmica da tortura pelas lesões que o ex-prefeito foi submetido. Ele sofreu queimaduras circulares nas costas que provocaram marcas compatíveis com as produzidas por armas de fogo. O Celso Daniel também apresentava ferimentos de estilhaços de projéteis na região da axila e da perna direita. Provavelmente ele foi deitado de barriga para baixo e alguém o torturou o ameaçando de morte, efetuando disparos do lado do corpo dele e fazendo queimaduras com essa arma. Isso é uma tortura clássica, realizada para obter informação. Não é uma tortura natural de um crime de sequestro, como a Polícia Civil sustenta. Em um sequestro comum, o tipo de tortura é para que a vítima perca a vontade. Eles deixam a pessoa nua, fazem tortura psicológica para que a vítima não queria fugir, não grite, não dê trabalho no cativeiro. Quanto mais quieta, mais seguro é o cativeiro para os bandidos. Já essa tortura de simular a morte do sequestrado você deixa a pessoa irrequieta. Não tem nenhuma compatibilidade com o sequestro comum, porque isso não vai obter maior vantagem financeira para os sequestradores. Disso nós estamos certos: o Celso Daniel foi submetido uma tortura clássica destinada à obtenção de informações.
UOL - Por qual motivo ele foi torturado?
Wider Filho - 
Que informações a quadrilha queria e quem torturou, não conseguimos esclarecer. Não houve nenhum testemunha presencial e ninguém que tivesse indicado isso. Talvez um dos caminhos possíveis seria a investigação barrada pelo STF para descobrir que caminho tomaram os recursos obtidos por meio de corrupção em Santo André. Foi tudo gasto? Existia algum recurso em conta secreta? Quem tinha acesso a essa conta? São questões que não foram solucionadas que talvez explicassem a razão da tortura, mas infelizmente o MP foi cerceado da obtenção de várias informações que seriam muito úteis para a solução do homicídio e do esquema de corrupção.
UOL - Como o MP avalia a atuação da Polícia Federal nesse caso?
Wider Filho - 
A PF até trouxe uma testemunha pra gente, mas teve uma atuação muito tênue nesse caso. Fizeram uma coisa marcante, que foram as escutas da quadrilha e de outros integrantes do PT logo depois da morte do Celso Daniel. Mas essas escutas foram obtidas com um “vício”: em vez de a PF informar o Judiciário que as escutas foram feitas para investigar a morte do Celso Daniel, eles colocaram no pedido como se fosse para apurar tráfico de drogas e inseriram os telefones. Com isso, escutas foram consideradas viciosas e jamais puderam ser usadas pelo MP validamente. Nos não utilizamos, nem tomamos conhecimento num primeiro momento. Só depois que essas fitas foram localizadas nós tomamos conhecimento. A atuação da PF não foi abrangente e trouxe esse vício que nos causou prejuízo.
UOL - Essas fitas foram descartadas?
Wider Filho -
 Elas tiveram uma longa história. O juiz Rocha Mattos [preso na Operação Anaconda] mandou destruir essas fitas. Elas foram apreendidas no MP e destruídas. Mas ele tinha um segundo lote, com cópias, e essas fitas acabaram indo para a CPI dos Bingos. Depois tivemos acesso às fitas, mas não há como utilizá-las porque paira sobre elas dúvidas sobre a legalidade. Não tem porque usarmos uma prova ilícita que pode contaminar todo o processo. Além disso, não sabemos se o lote que foi apresentado é completo.
UOL - Essas gravações ajudariam a esclarecer algumas questões relacionadas ao crime e ao esquema de corrupção em Santo André?
Wider Filho - 
Algumas questões sim. Mas não sabemos nem se o lote divulgado traz o conteúdo completo das gravações, nem se elas estão inteiras. Teríamos que pegar as grades dos telefones interceptados, o histórico das chamadas e verificar se há correspondência do histórico, porque quem colheu essas provas pode muito bem ter separado um pedaço de outro. A escuta quando envolve oponente político é muito delicada. Acho que tudo deveria ser remetido para o Judiciário, que deveria ser o guardião do material. E depois a polícia trabalhar com o material fornecido pelo Judiciário. Nesse caso há suspeita de que nem todos os áudios tenham sido revelados. É uma questão muito controversa. A decisão do Rocha Mattos pela destruição imediata das fitas foi tomada antes que pudéssemos recolher. O MP recorreu com uma liminar, mas quando obteve a liminar ela já estava prejudicada porque ele já havia destruído as fitas. Mas não se sabe se as fitas que ele divulgou posteriormente são a totalidade das gravações.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

No cair da tarde de hoje será o lançamento de Baile de Cobras, do meu amigo Enio Meneguetti, no Chalé da Praça XV, em Porto Alegre. Só pelo fato de o biografado nunca ter perdido eleição pro Brizola, esse convite é uma convocação! Quem puder ir, não perca! Sucesso, Enio!

domingo, 29 de abril de 2012

terça-feira, 24 de abril de 2012


Suprema Humanidade: quando as excelências perdem a excelência

A briga dos ministros do STF nos lembra de que, por baixo da toga, os juízes estão tão nus quanto qualquer um

ELIANE BRUM




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Désinvolture brega, caipira. 
A expressão, usada pelo ministro Joaquim Barbosa para referir-se ao ministro Cezar Peluso, pode ser a síntese dos dilemas expostos pela briga que ganhou as manchetes na semana passada. É o que confere qualidades shakespearianas à troca de golpes abaixo da linha de cintura, a rigor mais adequada a uma pelada de futebol de várzea. É onde mora a tragédia.
Reparem bem no drama. Joaquim Barbosa queria – e chamou – seu colega Cezar Peluso de “brega, caipira”. Brega, portanto, não era suficiente, para o ministro. Ele tinha ainda de adicionar mais um suposto sinônimo – e o suposto sinônimo escolhido demonstra a ira de que estava possuído, porque se esqueceu por completo do politicamente correto ao usar “caipira” com sentido pejorativo. Barbosa ainda chamaria Peluso de “ridículo”, “corporativo”, “desleal”, “tirano” e “pequeno”. Mas o mais interessante é que, antes de “brega, caipira”, ele instalou uma palavra francesa para completar a expressão: “désinvolture”.
Talvez, na intuição do ministro, uma “désinvolture” o salvasse de escorregar na lama das palavras da língua de origem – o salvasse, quem sabe, até mesmo da origem. Escolha que lembra as elites brasileiras do passado, na época em que apreciavam se expressar em francês para marcar também na linguagem a sua pretensa superioridade. Em boa parte do período em que a elite brasileira assim se comportou, porém, os antepassados de Joaquim Barbosa eram escravos – o que torna tudo mais interessante. Como uma volta completa.
Na fala do ministro, as ofensas de conteúdo mais explícito parecem irromper – e, então, de repente, ressurge o homem refinado, que fez mestrado e doutorado em Paris, subiu todos os degraus com seus próprios pés e méritos, e construiu uma biografia digna de aplausos entusiasmados. Mas ressurge como? Pela palavra estrangeira, aquela que o filho de um pedreiro do interior mineiro, o mais velho entre oito irmãos – negro, como ele se não cansa de lembrar a todos (possivelmente com razão) – precisou conquistar, junto com um lugar na elite jurídica do país. O homem ilustrado ressurge com “désinvolture”.
Em outro ponto, Barbosa usa a expressão “supreme bullying”. Refere-se, então, à campanha que Peluso teria capitaneado para desqualificar seus sérios problemas de saúde, que o obrigaram a pelo menos uma cirurgia e a meses de licença médica. Não. Um ministro do Supremo não sofreria um mero bullying. Mero bullying é para mim ou para você. Para ele haveria de ser um “supreme bullying”. Ainda que Barbosa explicite que criou a expressão com um sentido “jocoso”, não é uma expressão qualquer: é um “supreme bullying”. 
A certa altura, o ministro faz um comentário quase incompreensível, pelo menos para mim: “Eu aposto o seguinte: Peluso nunca curtiu nem ouviu falar de ‘The Ink Spots’. Isso aí já diz tudo do mundo que existe a nos separar...” Bem, acho que “isso aí” pode separar Barbosa não só de Peluso, mas de boa parte dos brasileiros. Por sorte, o crítico André Barcinski, na Folha de S. Paulo de sábado (21/4), explicou que se trata de um grupo dos anos 30, formado por quatro cantores negros, que influenciaria mais tarde lendas como Elvis Presley e Paul McCartney. Ainda assim, continuei, possivelmente por ignorância, a não entender que tantas léguas separam quem “ouviu falar” de quem não “ouviu falar” do “The Ink Spots”. De fato, o que o comentário parece revelar é o oposto: não há mundos tão vastos a separar um humano do outro.
No vão das palavras revela-se o drama do homem que precisa marcar a sua diferença – quase com desespero. Ler a entrevista que Barbosa deu à repórter Carolina Brígido, de O Globo, na sexta-feira (20/4), era como assistir a um embate entre vários homens dentro de um só. Além de travar uma disputa com Cezar Peluso, o colega que o ofendera de forma vil, Joaquim Barbosa debatia-se em uma furiosa guerra interna que se manifestava na linguagem.
Para quem não acompanhou o entrevero, tudo começou na quarta-feira (18/4), com a publicação de uma entrevista do ministro Cezar Peluso, que deixaria a presidência do Supremo no dia seguinte, a Carlos Costa, do site Consultor Jurídico. Nela, Peluso refere-se a Barbosa nos seguintes termos: “Ele é uma pessoa insegura, se defende pela insegurança. Dá a impressão de que tudo que é absolutamente normal em relação a outras pessoas, para ele, parece ser uma tentativa de agressão. E aí ele reage violentamente”. E, mais adiante: “A impressão que tenho é de que ele tem medo de ser qualificado como arrogante. Tem receio de ser qualificado como alguém que foi para o Supremo não pelos méritos, que ele tem, mas pela cor”.
É importante registrar que, como dizem as crianças ao terem a atenção chamada pelos pais, foi Peluso quem começou. Foi ele quem deu o primeiro chute nas canelas – por trás. Mas há uma parte particularmente interessante no discurso de Peluso nessa entrevista. Ele define-se como um “apaziguador”. Sua gestão como presidente do Supremo teria sido de “apaziguamento”. Nas palavras literais do ministro: “O que me deixa de consciência tranquila é que, de certo modo, o tribunal se apaziguou um pouco durante a minha gestão. Sabemos dos diálogos exacerbados entre os ministros, que aconteceram no passado. Durante minha gestão isso não aconteceu em nenhum momento. Tentei conduzir as reuniões do Plenário de uma maneira tranquila, de alto nível. Não houve nenhum episódio que relembrasse os atritos anteriores. Acho que minha moderação na direção do Supremo ajudou a refrear um pouco o entusiasmo ou o estado de ânimo, permitindo que o tribunal decidisse sem se expor. As brigas anteriores expunham muito o tribunal”.
Não é fascinante? Tanto Cezar Peluso quanto Joaquim Barbosa, nessa guerra de discursos, tornam-se personagens de tragédia, ao serem traídos por demônios interiores. Na mesma entrevista em que se lança como “apaziguador” e “moderado”, Peluso revela-se o mais belicoso e destituído de moderação dos presidentes. Na mesma fala em que se gaba de ter evitado a exposição negativa do tribunal, Peluso provoca a maior – e a mais vexatória – exposição da história recente do Supremo. E Joaquim Barbosa, acusado por Peluso de responder com violência ao sentir-se inseguro, como responde? Violentamente.
Humano, demasiado humano. É aqui que, para além da tragédia, pode haver um aprendizado para todos nós. Não vejo nenhuma ameaça à credibilidade do Supremo, como foi manifestado por alguns. O que vimos foi uma exibição de humanidade, em sua vasta complexidade. Tanto Cezar Peluso quanto Joaquim Barbosa, independentemente de concordar ou não com seus votos, têm evidente saber jurídico. Mas são, também, dolorosamente humanos. Não estamos sempre repetindo que queremos juízes mais humanos?
Aí está. A humanidade, como descobrimos mal botamos o pé na rua – ou mesmo antes, ao nos encararmos no espelho do banheiro –, está longe de ser feita apenas de sentimentos elevados. Alguns votos de ministros do Supremo alcançam o melhor da espécie, ao exibirem um pensamento tão límpido que quase viram arte. Mas, se é humanidade o que queremos, é preciso ter a maturidade de acolher o pacote completo. Não para sermos condescendentes, mas para exigirmos superação e melhoria de quem tem um papel estratégico em questões que envolvem a vida de todos.
É um episódio muito rico, este. E me parece que existe ainda um ponto a mais a observar. Qual foi o palco que ambos elegeram para essa briga mais adequada a um campinho de várzea? A imprensa. Eles poderiam ter discutido a relação, numa tradicional DR, no gabinete de um ou de outro ou ainda na zona neutra de um terceiro, nos corredores do tribunal tomando um cafezinho, ou até no lusco-fusco de um bar discreto de Brasília, bebericando um Dry Martini – ou um uísque cowboy. Mas aí ninguém ficaria sabendo. Não haveria audiência – nem holofotes.
Os ministros queriam que fosse público. Por quê? Houve pelo menos duas mudanças no Supremo que podem ter influenciado esse comportamento. Os julgamentos passaram a ser transmitidos pela TV Justiça, a partir de 2002, transformando em ritual público o que antes era rito privado. Uma demonstração de transparência e uma tentativa de aproximar a Justiça do povo, já que os temas julgados pelo tribunal são do interesse da população. No mesmo período, o Supremo passou a julgar questões cada vez mais cruciais para a vida dos cidadãos comuns, o que também é muito positivo. Esses dois fatos relacionados arrancaram os ministros de uma obscuridade com pompa, mas sem nenhum brilho popular, e os lançaram em um tipo muito particular de celebridade.
Essa troca de lugar simbólico, como sabemos, pode explicitar o melhor, mas também o pior do humano. Neste caso, revelou que tanto Peluso quanto Barbosa confundiram o personagem – que é apenas uma parte de alguém – com o todo. A ponto de se acharem tão importantes que tudo o que diz respeito a eles deveria interessar ao país inteiro. Como aquelas celebridades que postam no Twitter que precisam lavar o cabelo ou que acham que uma celebridade rival exagerou na quantidade de silicone no peito.
A rigor, não foi muito diferente. Na contenda dos ministros, a única informação relevante para o Brasil, se for comprovada, é a de que Peluso supostamente tentava manipular os julgamentos ao presidir a corte. De resto, só cotoveladas no estômago e puxões de cabelo. O que é relevante de fato é o que nenhum deles tinha a intenção de revelar, mas escapou pelas fendas da linguagem: a matéria falha de que todos somos feitos. Inclusive vossas excelências.
É ruim quando um ministro envergonha a si mesmo, por um lado. Por outro, é bom quando um ministro envergonha a si mesmo. Quando ministros chegam ao ponto de dizerem o que Peluso e Barbosa disseram um ao outro, pela imprensa, é porque ambos se colocaram acima do bem e do mal. E este lugar é o único que um juiz não pode estar. É justo, portanto, que despenquem desse lugar indevido com todo o vexame devido.
É importante lembrar, porém, que o episódio está longe de ser o único na história recente do Supremo. Houve outros – e com diferentes protagonistas. Lembro-me de, em 2004, ter ficado estarrecida quando o ministro Marco Aurélio Mello praticamente chamou Joaquim Barbosa para brigar na esquina durante um julgamento em que se desentenderam. Desde que acompanho algumas votações, tanto por obrigação profissional quanto por gosto pessoal, acho curiosíssimo que alguns ministros são capazes de falar as maiores barbaridades para o outro, mas jamais se esquecem de usar o “Vossa Excelência” antes de proferir cada baixaria. O “Excelência” está só um degrau acima do “Doutor”, essa praga que assola o Brasil desde a sua formação.
Numa dessas disputas de guris, Marco Aurélio disse a Barbosa: “Enquanto estiver com a toga sobre os ombros...” Pois é. O “désinvolture” do ministro Joaquim Barbosa é a toga com que ele tentou esconder a nudez do seu discurso. O “Vossa Excelência” é a toga da linguagem usada por todos os outros. Episódios como a briga entre Cezar Peluso e Joaquim Barbosa em nada ameaçam a credibilidade do Supremo. Mas são importantes para que os juízes – todos e também os da corte máxima do país – possam lembrar que, por baixo da toga, eles também estão nus. Acredito que um juiz julga melhor quando conhece o tamanho da sua nudez. E passa a tomar mais cuidado para não voltar a esquecer-se de que é tão nu quanto qualquer um.
Se o nível das desavenças estava mais para um bate-boca numa pelada de várzea do que para um debate público, ouso fazer uma sugestão pueril. Quem sabe alguém não possa organizar um futebolzinho leve aos sábados, misturando excelências e não excelências. Nesse espaço informal, uns empurrões aqui e ali aliviariam a pressão acumulada e seriam interpretados como parte do processo. Para quem tem impeditivos de saúde (e também para quem não tem), terapia tampouco seria má ideia.
Na semana que passou, Cezar Peluso e Joaquim Barbosa deram-nos uma grande lição de humanidade. No que ela tem de pior, é verdade. Mas é importante, tanto para os ministros do Supremo quanto para nós, lembrar o que nunca convém esquecer: ter um “excelência” antes do nome assegura muitos privilégios, mas não garante excelência a ninguém.