sábado, 5 de dezembro de 2009

O CASAL K DE URUGUAIANA: QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ

Não sei quantos são os professores da rede municipal, mas na manifestação de ontem pela manhã, na esquina do Calçadão com a Duque, contra o projeto que altera o plano de carreira, a ser votado esta semana pela Câmara, não havia mais que 80.

Quinta retrasada ouvi, pelo rádio, o prefeito Sanchotene Felice justificar a necessidade das mudanças. Pareceu seguro dos próprios argumentos. Em suma, aplicado o piso nacional ao atual plano de carreira, não sobra dinheiro para outras necessidades básicas, disse.

(Penso, todavia, que deixou de denunciar a demagogia que gerou o problema: o governo federal criou o piso salarial nacional, a ser corrigido nos mesmo índices da correção dos repasses do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica, o FUNDEB. Ocorre que os município não pagam o magistério apenas com o repasse do FUNDEB. Se a arrecadação municipal cai, não há FUNDEB que seja suficiente. Ou seja, Lula fez cortesia com chapéu alheio. E deixou a conta aos prefeitos.)

Na hora da manifestação, entre um mate e outro, ali na Praça, ouvi professoras brincarem com a própria desgraça: pela primeira vez faziam uma manifestação que não era para ganhar aumento de salário - era para não perderem.

Referiam-se a uma velha conquista: o plano de carreira cuja criação rendeu 20 anos de mandatos ao seu criador, o professor Delmar Kaufmann - ironicamente, o atual secretário de Educação que quer modificá-lo.

Quando nos governos (serviu a Nivaldo Soares, Caio Riela e Sanchotene Felice), ou na oposição (gestões de Brasil Carús, Eloy Trojan e Neito Bonotto), foi sempre o defensor-mor do magistério municipal. E como tal reconhecido e recompensado - com votos.

Em 2008, preterido na formação da chapa tucana, resolveu investir o capital político numa versão crioula do Casal K, da Argentina, e projetar vôos mais altos - e, quiçá, independentes: lançou a esposa, a professora Neraí, à Câmara Municipal, hoje por ela presidida, e seguiu comandando a pasta da Educação - que "há 20 anos moderniza", ironizou uma professora.

Não tenho posição sobre a alteração proposta. Disse-me uma professora que, com ele, o magistério deixaria de ser uma carreira profissional para ser um mero (e estagnado) emprego público. Mas não li o projeto nem conheço o plano de carreira atual. Lembro apenas que sempre foi considerado uma jóia intocável da coroa de conquistas do professorado local ...

Me palpita, todavia, que a forma de encaminhamento da mudança proposta, afora possível necessidade administrativa e financeira, atenda a uma maldade política do prefeito Sanchotene Felice, que poderia ter entregue o assunto à Secretaria de Administração, ou ter, de alguma forma, poupado o professor Delmar Kaufmann do constrangimento ... (Juro que vi uma professora bradar: - Delmar: Quem te viu, quem te vê!)

Desconfio que, sabedor de que Kaufmann vem capitalizando a crescente insatisfação do tucanato com o seu peculiar estilo de gestão, e se posicionando como alternativa independente e autônoma à sua sucessão - inclusive marcando posição com (nem tão veladas) críticas à compra do prédio da antiga CAUL, que seria "imprestável" à finalidade desejada pelo prefeito (creche e escola infantil), Sanchotene tenha decidido fazê-lo sangrar politicamente na arena onde sempre atuou como herói ...

Foi, salvo melhor juízo, um presente de Natal - de grego ... Com trilha sonora de Chico Buarque, segundo a inspirada professora.

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