quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Foi numa mesa do velho Pedrini, ali na Venâncio Aires quase Lima e Silva, que pela primeira vez ouvi falar no tal de Augusto Nunes. Idos de 1992, 94, ambiente em que ainda se respirava Revolução Cubana, triunfos e potencialidades, é claro, um amigo, que recém fora generoso ao me apresentar a um grupo de amigas suas, quando eu já sentia a textura do paraíso socialista pelo quanto o sotaque fronteiriço arrebatava à realização plena daquela famosa frase do Che, resolveu me golpear, traiçoeiro: - Ele é de Uruguaiana, monarquista e foi quem me deu aquela camiseta da UDR que uso como deboche! Pelos olhares de desprezo, quase ódio, me senti no paredón, mas permaneci ali pelo exotismo do ambiente, pela bebida, o picadinho e a conversa boa com meu desleal amigo - afinal, era (e é!) meu amigo. Da mesa, restei alijado - restamos, já que ele, bem feito, foi sutilmente punido por andar mal acompanhado ... (Mais por fora que o Temer na campanha da Dilma ...) Mas notei que a pauta ficara temperada pelo perigo que por ali havia passado, reacionários soltos, pelas ruas, bares e redações, inclusive ... Um tipo, naquela indumentária de voluntário da revolução etílico-cultural do turno, foca na Zero Hora, contou às companheiras que, na tarde daquele dia, quando Lula (não lembro se candidato naquele ano) fora ovacionado pelos 'jornalistas' ao passar rumo à sala do presidente da RBS, o "filho-da-puta do Augusto Nunes", diretor de Redação da ZH, mandou mensagem à equipe que comendava: JORNALISTA NÃO SE DESLUMBRA COM POLÍTICOS! SEJAM COLLARES, COLLOR OU LULA!

O Pedrini não existe mais. Tem um bar com o mesmo nome e no mesmo endereço, mas, modernizado, perdeu a essência, o aspecto de boteco-de-frequentadores-antigos-com-idéias-antigas, um museu de sonhos e sonhadores, o que, reconheço, conferia certa pureza aos confrades ... Parece que virou franquia ou se multiplicou em filiais, não sei bem ... (Nem a múmia do Pilla Vares, cativo daquelas mesas, está mais lá, enterrado que foi há uns três anos ...) Por vergonha, muita gente não carrega mais a bandeira do PT ... outros, agora, só pelo dinheiro ... Mas o Augusto Nunes, que passei a acompanhar a partir daquela não-recomendação, não mudou: continua tratando Lula como trata Collor, como trata Maluf, Sarney ... Bendito fdp!

Blogdo Augusto Nunes

O tumor localizado na Receita Federal ameaça a sobrevivência do estado de direito

Introduzo na poesia a palavra diárreia, não pela palavra fria, mas pelo que ela semeia, avisa Ferreira Gullar nos primeiros versos de A Bomba Suja. Reintroduza-se na política a palavra honestidade, antes que morra de vez o conjunto de valores que a palavra enfeixa. A falsificação da assinatura de Verônica Serra na procuração entregue à Receita Federal é uma agressão ultrajante ao Brasil honesto ─ e a prova definitiva de que o vale-tudo eleitoreiro expandiu perturbadoramente as fronteiras do atrevimento.

Se os donos do poder não respeitam sequer a filha de um candidato à Presidência da República, é evidente que as instituições estão novamente em frangalhos. Ou o país reage agora ou a Constituição será substituída pelo manual do banditismo. O governo que se gaba da invenção da justiça social vai revogando os códigos que orientam a Justiça sem adjetivos. O amor à verdade virou coisa de otário. Pode acabar reduzido a crime.

Secretaria da Receita Federal não é umo empresa privada, muito menos um ente autônomo. É um órgão da administração federal, subordinado ao Ministério da Fazenda. Ninguém é nomeado para o comando do Fisco sem o aval do chefe de governo. Conduzida por especialistas no assunto até a nomeação de Lina Vieira, foi primeiro aparelhada pelo PT e depois transformada em acampamento de gatunos e extorsionários.

O escândalo não se limita ao mafuá de Mauá. O tumor vislumbrado na Receita Federal cresce nos intestinos do Executivo e ameaça a sobrevivência do estado de direito. Os brasileiros decentes têm de reagir às ações criminosas com a indignação enfim exibida por José Serra. O chefe de família manifestou-se com a veemência que tem faltado ao chefe da oposição. A OAB, a ABI e outras siglas que viviam com a Bic na mão, prontas para engrossar até um abaixo-assinado contra o guarda da esquina, precisam recuperar a altivez e a voz.

É preciso silenciar imediatamente a conversa fiada do presidente da República, represar as infâmias despejadas pelo presidente do PT, rebater as mentiras desfiadas pela candidata a presidente. O histórico do caso de estupro fiscal informa que, a cada descoberta da imprensa, outro crime é cometido para ocultar os anteriores. O Ministério Público e o Poder Judiciário têm de provar que existem.

O combate à corrupção ainda não conseguiu espaço na campanha eleitoral. O que já foi caso de polícia pode acabar promovido a case político. É hora de resgatar expressões banidas da linguagem dos palanques pelo cinismo endêmico. A primeira da lista é a palavra honestidade.

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