sábado, 23 de outubro de 2010

Acabo de receber do Jair Portela, um uruguaianense exilado que a internet ajuda a clarear 'as ideia' dos que aqui se quedaram, o artigo aí de baixo. Esperto, espertinho ou espertalhão: em qual categoria Lula se encaixa?

FEIRA NACIONAL DO JOIO

Todos temos um quê de esperteza e via de regra nos consideramos mais malandros. Não nasceu acidentalmente o tal “jeitinho brasileiro”, a “lei de Gerson” e outros escapismos da lealdade que se proliferaram por estes rincões da pátria amada salve-salve.
Há padrões definidos socialmente para os malandros. Meu pai os classificava como espertos, espertinhos e espertalhões. Tinha orgulho quando eu me mantinha no primeiro, mas me punia proporcionalmente quando arriscava os outros estágios. Por outro lado, passei uma vida buscando e recrutando profissionais espertos. Vez por outra aparecia um espertinho que em absoluto era desprezado, apenas merecia cuidados. Quanto aos espertalhões, bem, aí era olho clínico para perceber, e das vezes em que houve a necessidade de contar com eles era na “cincha” e por tempo determinado.
Nós, cidadãos comuns não passamos de inexpressivos malandros sociais, tanto quando fazemos nossa declaração de bens, como quando estamos à frente de uma entrevista seletiva. Não mentimos, douramos a pílula, ou fazemos como diz Don Alejandro, o símio provecto: vendemos a alma sem pecado.
Estamos, hoje, vivendo a Feira Nacional do Joio (que tal FE-NOJO?), e muitos ainda não sabem o que fazer. Quem joga no time do joio? Quem joga no time do Trigo? E não esperem que o final da campanha eleitoral lhes traga alguma luz, uma vez que o pessoal encarregado pelos chicletes de ouvido só ouviu falar em joio no lado oposto, restando aos seus, loiros e límpidos trigais. E assim, barraco de cá, barraco de lá, disputam palmo a palmo quem consegue mais argumentos para consolidar o desprezo de votar.
Percebo alguma perplexidade ante os acontecimentos patrocinados pelos atuais disputantes à varanda da Granja do Torto. Entretanto, isto apenas se repete a cada processo eleitoral. Eventuais manifestações de repúdio ao nível rasteiro que adotam sempre resultam em nada, o que nos faz ainda mais silentes, desconfiados de que democracia é um artifício destinado a uma pequena casta formada por espertalhões.
Mas vencer o nojo e votar é preciso, a fim de que não deixemos a esperança de termos dias menos turvos, pela qual arriscamos nossos órgãos mais preciosos com testes de amperagem nos anos setenta, seja transformada em pouco mais do que modestas expectativas de que lá, bem no fundinho, nos porões mais mofados das consciências, aqueles que ascenderem ao poder, dia destes, relembrem que canja de galinha, mineral sem gás e vergonha na cara não faz mal a ninguém.

Jair Portela

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