sábado, 20 de novembro de 2010


Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço
— Meu tempo é quando.


Não é todo dia que espio o Generacion Y, editado desde Cuba por Yoani Sánchez. A preocupação com a aldeia e a ressonância nela do que tramam e aprontam em Brasília termina fixando o olhar no dia de hoje. Uma falta! O tom melancólico mas esperançoso dessa mulher mais que guapa que nunca ganhará o Nobel da Paz, que a vigarista Rigoberta Menchú um dia ganhou, me faz abrir este post com Poética, de Vinicius de Moraes, que, a meu ver, ninguém melhor que Yoani sintetiza e encarna hoje nas Américas. Algum esquerdista dirá que cometo uma blasfêmia com o grande poeta, esquerdista (festivo) dos bons, que recitando justamente esses versos teria enfrentado a hostilidade de estudantes salazaristas em Portugal no duro ano de 1969. Não! Quero crer que ele não teria, como Luiz Fernando Verissimo e Chico Buarque e tantos outros, vendido a banha nem perdido a graça e a genialidade só para não molestar o arrastão liderado por aquele "retirante nordestino que sonha ser José Sarney", na perfeita definição de Diogo Mainardi. E que hoje estaríamos do mesmo lado. Mas me distanciei da brava Yoani, motivo destas linhas. Voltemos: no post transcrito abaixo, ilustrado pela foto que ficou lá no alto, o retrato de um tempo que, em Cuba, se esgota a cada dia (com um elogio ao individualismo que lembra Ayn Rand), ou um será grave prenúncio a los macaquitos brasileños?


Mi pedacito

Cinco décadas de “nosotros”, de adoctrinarnos en el comportamiento del albergue o del pelotón y sin embargo esta mañana –en el parque– un joven afirmaba: “Es que yo quiero tener mi pedacito”. Lo dijo como quien confiesa el pecado de codiciar algo lejano, de satisfacer un deseo maldito por el que podría recibir el escarnio público. Mientras hablaba de sus “ambiciones”, gesticulaba con las manos atrayendo hacia su cuerpo ensoñaciones invisibles que también nombraba: “un techo”, “un salario decente”, “permiso para viajar”.

La colectivización no ha borrado en nosotros ese anhelo humano de tener un trozo propio y el forzado igualitarismo sólo ha incentivado las ansias de diferenciarnos.

Um comentário:

  1. Querido Fernando:
    Felizmente tive o privilégio de conhecer Vinicius em sua época pré-sucesso popular e, assim como o fazes tu, acredito que jamais teria "vendido a banha" para não molestar quem quer que fosse, mas escreveria sim seus versos mais tristes se tivesse que vivenciar o que acontece em nosso país. O Ferreira Gullar que o diga.
    Obrigada pelo email,
    Marina

    ResponderExcluir