domingo, 13 de fevereiro de 2011





Quantas cidades podem ser pensadas enquanto seus cidadãos fazem despretenciosa literatura? É o que oferece o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul. A coluna de Gilberto Scopel de Morais pode ser acessada clicando aqui; a de Eduardo Florence, vai abaixo.


As calçadas - Carlos Eduardo Florence

Afastem-se camelôs, descubram onde anda a simetria das ondas pretas e brancas nas calçadas da Rua Sete. Retirem-se placas de candidatos e ofertas da semana, tapem os buracos, pois o salto alto das mulheres e também das prostitutas poderão quebrar. O que faz este poste no meio da calçada e esta escada que a invadiu? Derrubem o anúncio do elixir e esta rampa no meio da quadra. Cortem a raiz da árvore que nos faz tropeçar, espantem os guardadores de carro que não contratei e o que faz aqui esta placa de sinalização que me lavrou a testa? Nivelem as quadras e desfaçam degraus. Fechem o bueiro cuja tampa foi roubada, quebrem as cadeiras de bares que não nos deixam passar. Espalhem areia nos pisos cerâmicos que nos possibilitam escorregar, salguem as gramas que como forma de calçada nos desviam para a rua, para o asfalto, para os paralelepípedos e para o perigo. Caminhar é como a vida - muito perigoso. Caminho pelo lado sombrio das calçadas, mas não existe poesia nas calçadas, que nem calçadas são. Hoje só fazemos chorar as pedras dos passeios. Afastem-se todos que profanaram as ruas por onde andei. Afastem-se para não atrapalhar a nossa marcha épica de flanar pela cidade. Tudo pode ser recuperado pela poesia.

As leis

As calçadas, como parte integrante da via pública, destinam-se exclusivamente para o movimento dos pedestres com segurança e conforto. Devem garantir acessibilidade e mobilidade para todos: idosos, deficientes e com mobilidade reduzida, sem risco de acidentes. Uma calçada tem que ter mais de dois metros de largura e a manutenção das calçadas é de responsabilidade do proprietário do imóvel e a fiscalização é da Prefeitura. Se o bem é público, a responsabilidade é do poder público. É uma questão política disciplinadora do espaço. Calçou a rua, o dono faz a calçada. Sem regalias a pobres e exóticos. Isto se chama civilidade.

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