sexta-feira, 22 de abril de 2011

Por pior que seja, ou se torne, a crise da Santa Casa de Caridade já foi toda resumida por Benhur Bortolotto, no Tribuna de Uruguaiana:


"A situação da Santa Casa de Caridade é um quadro interessante: para mocinho, se olharmos atentamente, Felice não serve, mas que tal não são seus antagonistas que ele até consegue bancar o bom da história!"


####


Não sei se foi Ciro Gomes ou Roberto Requião que disse que campanha boa é a que se dá no mais baixo nível (pelo quanto revela dos contendores). Pois é, se o que alimenta o atual embate são as eleições de 2012, torna-se salutar que essa briga de bugios se aprofunde, mais e mais. Mas, por enquanto, os possíveis beneficiados pelo desmoronamento do ninho tucano - Caio Riela (PTB), Frederico Antunes (PP) e Neito Bonotto (PMDB) - permanecem no mais obsequioso silêncio.

 
####


A premissa lógica: como qualquer prestadora de serviço, a Santa Casa tem sua viabilidade financeira atrelada à excelência (e aos lucros) dos serviços que presta, e, como tem caráter filantrópico, precisa atender um Tellechea em quarto VIP para subsidiar o atendimento de quatro chibeiros pelo SUS. Não sendo assim, quebra. Como quebrou.


####


O diagnóstico, já antigo, embora pouco falado: ao longo de décadas, a Santa Casa se sucateou por falta de capacidade de investimento. Isso se revelou uma boa oportunidade de negócio, para alguns. Com toda a receita indo para a folha de pagamento e despesas correntes e o passivo (FGTS, principalmente) só crescendo, donde a Santa Casa tiraria dinheiro para investir num aparelho de raio x que fosse? Não tiraria. Os médicos, individualmente ou em pequenas sociedades, vislumbraram a oportunidade de equipar o hospital. E o fizeram com fino faro financeiro. Setores inteiros, lá dentro, pertenciam (pertencem?) aos terceirizados. A centenária Santa Casa virou um grande condomínio, em que o atendimento pelo SUS e as responsabilidades civil (por erro médico) e trabalhista, tocavam à entidade, e as moedas que caíam nas maquininhas, ficavam com os médicos. Essa situação foi aceita e tolerada durante anos, décadas, até. Títulos de nobreza da alta sociedade uruguanense foram comprados com sacos dessas moedinhas .... Quando perigava faltar para o 13º do funcionalismo, entidades e clubes de serviço se prestavam a fazer a rifa de um carro, e tudo se resolvia. Todos contentes.


####


Como em todo lugar, a medicina em grupo se expandiu também aqui. Quem, no tempo da antiga Santa Casa, se obrigava a vender uma ponta de bois magros para pagar meses de internação de um familiar, nos últimos 20 anos aprendeu a se precaver, pagando mensalidade a empresas do ramo (aqui, a UNIMED). Assim, evita imprevistos. E assim, de novo, a classe médica vira sócia do bar daquela Casa Que Tudo Tolera ...
Aqui não vai crítica à empresa (cooperativa). Não mesmo. (A UNIMED veio para nos salvar do SUS!) Só a constatação de que há, sim, conflito de interesses entre seus sócios e a Santa Casa. 


####


E há o sindicato ... Alíás, a única área rentável que os médicos não exploravam era a das ações trabalhistas: faltava-lhes inscrição na OAB. Além das, digamos, boas relações sindicais. 


####


Apesar de que nunca falhou a irresistível preferência dos administradores pelos PCMSO (Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional) e PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), comprados sempre do mesmo profissional, por insondáveis desígnios ... Fosse mais transparente a concorrência, seriam tantas as ações trabalhistas?


####


E apesar do célebre talagaço que um médico deu na Santa Casa quando cobrou direitos trabalhistas ... coisa de 300 ou 400 mil reais, dizem! Amigo (e contraparente) de Sanchotene Felice, mas bem antes de sua gestão. Mas isso é outra história ...


####


Só para ilustrar como funcionava a Casa que Tudo Tolera: certa feita, trouxeram um novo administrador. Currículo? Ter administrado o hospital de uma cidadezinha aqui da região, posto ao qual fora alçado porque era o dono da lancheria que havia dentro do nosocômio quando vagou o cargo de administrador. De lá,  veio administrar a Santa Casa de Caridade de Uruguaiana. Apaixonado por tango e com bom gosto para os vícios, logo se enrabixou por uma funcionária do almoxarifado. A morena era linda mesmo, e ele começou a ter ciúmes e a requisitar sua atenção nas horas mais improváveis. Sentindo-se patrão, mandou instalarem um telefone vermelho na mesinha de cabeceira da china, por conta da Santa Casa, é claro. Pelo telefone, era encontrado a qualquer hora. E encontrava-a, sempre que batia alguma dúvida. Até que a patroa descobriu tudo, ameaçou despachá-lo e ele voltou à querência. E aos pastéis da lancheria. Anos depois, a morena perdeu o cargo de chefe do almoxarifado, fruto de tanta coisa, embrabeceu e entrou com uma ação na Justiça do Trabalho. Queria receber horas extras pelo tempo que ficava à disposição, mesmo no recesso do lar. A prova? Um telefone vermelho.


####


Quando assumiu a gestão da Santa Casa, o prefeito Sanchotene Felice pareceu disposto a extirpar esse e outros vícios. Investiu, fez reformas, ampliou, e chegou a desapropriar as maquininhas (de medicina por imagem) dum tal Dr. Botelho. Recolocar o hospital a serviço da população parecia ser o seu propósito. Trouxe de Porto Alegre o administrador Roberto Wilkens, qualificado, bem conceituado, ponderado. (Conheci-o.) Se o visse agora, mexeria: - És um raro petista com emprego na iniciativa privada! Mas o tempo foi passando ... Roberto foi embora e o prefeito trouxe a "doutora Ana Maria Del Lito", como ele imposta a voz para falar. Com ela, muitos problemas. O maior, de natureza ética: em ação judicial movida lá em Porto Alegre, quer se aposentar por alegados distúrbios em sua saúde mental, ao passo que, em Uruguaiana, exerce função de alta exigência emocional - com louvor, abona Sanchotene, o que lança suspeitas sobre a idoneidade da pretensão da "doutora" de se encostar no INAMPS, como diz o bacudo ...


####


Com o cardiologista Fábio Motta deu-se o mesmo. O prefeito - que não queria mais terceirizações dentro do hospital - foi procurá-lo para montarem o instituto de cardiologia, coisa de "primeiro mundo". Máquinas da Santa Casa e máquinas de Motta. Este aceitou. Assinaram contrato, com cláusulas penais e tudo o mais, de ambos os lados. Até que Motta não suportou mais a interferência da "doutora Ana" no seu trabalho. Denunciou-a. E Sanchotene não o perdoou e deu por rescindido o contrato. Tentou desapropriar-lhe as máquinas e a Justiça não deixou. E agora? Não esqueçamos: há cláusulas penais por recisão imotivada. Quem pagará? Dizem que, aplicadas, redundariam em improbidade administrativa ...


####


Para esquentar mais um pouco o tiroteio, o meu amigo Lauro Beheregaray Delgado, que já foi três vezes presidente da OAB e liderou todas as lutas da cidadania em Uruguaiana nas últimas décadas (e, certa feita, em Alegrete, numa reunião do PMDB, disse verdades olhando na cara do senador Simon), agora membro do Conselho do governador Tarso Genro, tem sabido liderar e fortalecer a oposição. Mobiliza todas as forças e tenta emparedar Sanchotene (desafetos que são só há 60 anos). Com grande êxito, até agora.


####


Mas há que se tomar o cuidado de não repetir Sanchotene, que acha que os bandidos estão todos do lado de lá.
Está coberto de razão o Benhur!


Um comentário:

  1. Meu caro Fernando como voce é um critíco da cena política de nossa cidade, permito-me fazer o seguinte comentário: Lí hoje na Zero Hora que o Frederico é candidato do PP a Prefeito de nossa terra. Se for eleito será um sério desastre pois além de ser cupincha do pessoal da CORSAN (grande exploradora dos municípios) empresa pública falida pelo empreguismo e outras cositas más(tem sede em POA com grande numero de técnicos, mas não vende nenhum litro d'água em POA. Precisamos de um Prefeito sério que de continuidade as boas obras do atual e não torne a Prefeitura apenas uma agência de empreguismo da companheirada como ocorre em outras Prefeitura e na Assembléia. Será que o Frederico modificará seu sistema de atuação em benefício de nossa terra.

    ResponderExcluir