sábado, 21 de maio de 2011

Ruy Gessinger andou em Uruguaiana semana passada e ficou encantado com a cidade, que não via há cerca de cinco anos. Rasgou elogios em todas as oportunidades que teve, no próprio blog, no Café da Praça, na Associação Comercial e Industrial (onde deixou muita gente pensando depois de rápidas palavras ao Núcleo de Estudos de Política Aplicada) e, de volta a Porto Alegre, no programa de TV Pampa Boa Noite, onde foi interrompido pelo apresentador Paulo Sérgio Pinto, incontido fã do prefeito Sanchotene Felice (PSDB). Levou um livro (O Seresteiro) e um CD do Silvio Genro e deixou um CD seu ao poeta - outro, me regalou. Também se encantou com o médico Raul Valls, que o conquistou para o projeto De Mãos Dadas com a África e o levou para uma partida no Tênis Clube Rio Branco, às 14h30 do dia 13/5, durante a qual explodiu um buzinaço de caminhões argentinos parados havia 60 horas na Ponte Internacional porque Dona Dilma, enfim, mandara o Ministério do Desenvolvimento jogar duro com los hermanos e trancar a importação de automóveis, como fazem os países que se fazem respeitar no comércio internacional. (Tem gente que até quando joga tênis está perto dos acontecimentos ...) Hoje (no blog)  publica interessante vídeo do finado Getúlio Vargas (miserável figura que no dia que eu abominar menos até poderei escrever sobre). Vai daí, achei que, dados os gostos históricos e políticos de Gessinger (e de tantos amigos, como o Dr. Ramão Larré, que consegue trabalhar com o retrato do sorrateiro ditador lhe mirando; meu avô João Ramão Fagundes também adorava a figura!), resolvi homenageá-lo, e aos valores da democracia, que nos faculta essas divergências, com esta saborosa história contada por um Valls que não conheço pessoalmente, o advogado Getúlio Vargas Valls, sobre a Ponte Internacional  Getúlio Vargas- Agustín Pedro Justo, esta semana, mais uma vez, desrespeitada, e que, hoje, completa 63 anos. Ei-la (tirada do blog do jornal Cidade):

O relato abaixo é do Getúlio Vargas Valls, afilhado do Jango, irmão de Iris Valls Filho, sobre o ato de seu pai, Iris Valls, quando prefeito de Uruguaiana.
Alguns amigos me pedem que conte a história do fechamento da ponte Uruguaiana-Libres, pelo pai, quando era prefeito nessa cidade.
Alguns fatos podem estar em desacordo com a verdade posto que para mim chegou a história e vocês sabem como há distorções na... história. Por favor, se alguém detectar os desacordos históricos, não se acanhe em publicá-los, haja vista que a elucidação dos fatos é o melhor caminho para a verdadeira história.
Assim me contaram que aconteceu:
Um dia, meu pai estava despachando normalmente na prefeitura quando alguém entrou em seu gabinete anunciando que um gendarme argentino tinha batido de chicote em uma "chibeira" porque ela trazia um quilo a mais de não sei o que e, não contente com o espancamento rasgou seus pacotes espalhando sua mercadoria no chão. Averiguada a veracidade do fato, foi até a casa Jaques e comprou dois rolos de arame farpado e dirigiu-se à ponte. Chegando na divisa, desceu do carro e simplesmente passou o arame de um lado a outro, deixando o "General" Aymone cuidando para que ninguém se atrevesse a tirar. Saindo dali, foi até o QG militar (época boa em que as autoridades eram autoridades) e colocou os milicos na rua a prender todos os argentinos que estavam em Uruguaiana, ficando presos no 8º de Cavalaria a pão e água. O Perón, ao saber do ocorrido, deslocou para Libres sua famosa divisão de Panzer's e para lá também se dirigiu, mandando chamar o pai para saber dos acontecimentos. O pai mandou dizer ao Perón que atendia na prefeitura municipal em horário comercial. Perón, não acostumado a ser contratriado, avisou Getúlio Vargas que invadiria para "resgatar seus compatriotas". O Getúlio, muito amigo do pai e o conhecendo, tocou para Uruguaiana e o convenceu, a muito custo, a encontrar-se com o Perón no meio da ponte.
Ali se encontraram os 3, às 11:00 hs da manhã de um dia quente como só nessa região sabe ser, e ficaram conversando até às 15:00 hs. Dessa reunião, foram tiradas algumas decisões:
1º - Que o gendarme que chicoteou a "chibeira" era entregue imediatamente à justiça brasileira para por ela ser julgado, e o foi.
2º - Uma carta de próprio punho do Perón autirizando a Prefeitura Municipal de Uruguaiana a passar na ponte o que fosse necessário para seu abastecimento;
3º - O gendarme foi trocado no meio da ponte pelos 36 argentinos presos em Uruguaiana no mesmo dia;
4º - Perón veio a Uruguaiana para acertar alguns detalhes e posou para foto na Prefeitura Municipal;
5º - Pela coragem de defender seus munícipes, o pai ganhou do Perón a espada de San Martin e o cargo de general na Argentina com seus respectivos vencimentos.
O pai aceitou a espada mas recusou o cargo e os vencimentos, aludindo que quem servia a duas bandeiras não servia a nenhuma. Ficaram amigos, se correspondiam e visitavam.
Homens com coragem, determinação, mas, principalmente com noção de dever público de seus cargos. Toda a vez que conto isso me emociono, me envaideço e me orgulho de ter recebido essa herança sem preço no mundo. Que possa servir de estímulo e exemplo para todos os detentores de cargos públicos que não cumprem com seus munícipes.

Bons tempos!

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