sábado, 3 de março de 2012

Há meses namoro a biografia de Jango escrita pelo professor fluminense Jorge Ferreira. Como nunca ouvira falar nesse autor e como ele é dum estado meio sinistro, que já elegeu Brizola, Juruna e o Macaco Tião, me vinha sempre uma ponta de desconfiança: será coisa séria, ou outra hagiologia sobre trabalhistas ilustres? Nem a recomendação abalizada de alguns amigos me diminuiu a desconfiança; me disse o José Antonio Severo, por exemplo, que vale muito "pela fidedigna reconstrução do cenário pré-64". Não foi suficiente para me levar a mão ao bolso. Mas agora, com o artigo de Sérgio Costa Franco na Zero Hora desta semana que está terminando, me rendi, a curiosidade aumentou e vou comprar o livro. Já sei que não esclarece sobre a fortuna de Jango, como alertou Costa Franco, mas deve ter mesmo algo de interessante nas mais de 700 páginas. Aliás, quantas  teria se abordasse o monte-mor do finado???!!!
###
Um neto do nosso herói, tal de Cristopher Goulart, andou escrevendo uma resposta - que a Zero Hora só publicou por covardia! Não clareia nada. Não diz, por exemplo, por que Jango, que herdou o mesmo que as irmãs, tias-avós de Cristopher, como dona Neuza, mulher de Brizola, e que tinha uma mulher, dona Maria Thereza, que não passava o dia cozinhando ou cerzindo as bombachas do marido, bem pelo contrário, e que era reconhecido chineiro e mão aberta como todo o boêmio, terminou a vida muito mais rico que as irmãs. Qual o mistério?       
Biografia de João Goulart - por Sérgio Costa Franco
Biografias de políticos, de escritores ou de artistas podem ser interessantes, quando bem articuladas, documentadas e bem escritas. Foi com essa expectativa que abracei a leitura do extenso texto do professor carioca Jorge Ferreira sobre o ex-presidente João Goulart. Manda a verdade dizer que eu não compraria tal livro de 700 páginas a respeito de um personagem que nunca esteve no rol das minhas afeições. Mas o livro vem sendo recomendado por opiniões respeitáveis e foi oferta de um estimado amigo. Precisei, pois, consumir o tijolão gráfico, folha por folha, sem muito enlevo, aprendendo algumas coisas a respeito da tumultuosa década de 1960, que pessoalmente acompanhei com esperanças, desilusões e sofrimento.
Tese acadêmica sustentada perante a Universidade Federal Fluminense, o livro resultou de uma pesquisa ampla, envolvendo sobretudo depoimentos orais, além de farta matéria jornalística da época. Mas, a meu ver, a biografia de personalidade como a de João Goulart exigiria algo mais. Sua obscura passagem pelos bancos da Faculdade de Direito da UFRGS não mereceu mais do que um parágrafo, quando é certo que os arquivos daquela faculdade conservam até as provas de seus alunos, nas quais se poderia colher subsídio sobre as ideias do biografado em Direito do Trabalho. Segundo Ferreira, na condição de ministro e de presidente da República, Jango seria, nessa matéria, um inovador radical. O que foi, para o leitor, forte novidade…
Outro assunto em que o biógrafo se mostrou omisso foi no esclarecer o rápido e meteórico enriquecimento de Jango. O tema interessaria a todos os ruralistas, especialmente aos jovens gestores de empresas rurais. À construção da grande fortuna do biografado, Jorge Ferreira dedicou apenas um ou dois parágrafos da página 46. Ali se diz que Jango acumulou seus ativos entre 1941 e 1945, ou seja, quando nem completara 30 anos de idade. Em 1946 já somava um patrimônio de 14.915 cabeças de gado bovino e 5,7 mil ovelhas. Tudo isso a partir de modesta herança, mas auxiliado por financiamentos bancários. É claro que esse milagre de gestão empresarial mereceria um tratamento mais extenso, de parte do biógrafo, não bastando o frisar a grande perspicácia de Jango para os negócios rurais. Invernadores ativos e perspicazes há muitos, mas raros são os que conseguem, nas condições de Goulart, amealhar imensa fortuna em poucos anos.
É valiosa a biografia produzida por Jorge Ferreira. Mas, apesar de sua extensão, ainda fica nos devendo muita coisa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário