terça-feira, 24 de novembro de 2009

A HORA DA VERDADE – URUGUAIANENSES CONTRA URUGUAIANA, MAIS UMA VEZ – II




Ricardo Pinto, blogueiro do Temporal das Idéias, e advogado, contesta o post em que critiquei a banalização do fechamento da nossa Ponte Internacional como forma de protesto. E, sagaz, invoca o direito a livre manifestação nos espaços públicos. Fala em fascismo. Esquece que o fascismo não existiu sem que meia dúzia de iluminados se jactassem porta-vozes da massa. E sem que o indivíduo fosse esmagado pelo tal interesse coletivo - sempre invocado para sobrepujar os direitos fundamentais.

Ora, quantos advogados há em Uruguaiana? 300, 400, 450? Não sei, mas houve 271 votantes na eleição da OAB, semana passada – fora os que votaram em branco, se alguém se deu a tal trabalho. Quantos causídicos há na fotografia acima? Também não sei ao certo, mas incluindo vereadores e mais algum curioso, sempre os há, não conto 50 manifestantes (entre eles, alguns meus queridos, como minha mãe, que esteve lá e discorda de mim).

48, 49, talvez 50 manifestantes ... Menos que o número de pessoas que, naquele momento, esperavam, de um lado ou doutro, o protesto terminar para exercer o direito constitucional de ir e vir. E houve convocação, extensiva a toda a comunidade, do recém reeleito presidente da OAB através da rádio Charrua! Eu ouvi.

Numa população de 123.743 pessoas (IBGE/2007), aparecem 50 (contando quem tirou a foto, talvez), e o Ricardo Pinto quer que eu ache que representavam quantos? (Ora, representavam tão só eles mesmos.) E que tinham o direito de submeter uma só pessoa que fosse a esperá-los!? Não, não tinham! Ninguém tem!

Diz ele que “99%” das manifestações ”acabam por interromper alguma atividade do cidadão, inclusive obstrução de vias públicas como ocorrem nas passeatas, carreatas, showmícios, etc”. Singelo: eu só reconheço a legitimidade do 1% de manifestações que respeitam a civilização!

Tive o máximo cuidado de, em respeito às famílias atingidas, abstrair a tragédia que serviu de pano-de-fundo às inúmeras e variadas formas com que temos manifestado, nas mesas, esquinas e rodinhas de conversa, nossa perplexidade ante ao acontecido.

Respeito que traduz-se em pudor. Pudor de falar de uma dor que, antes de difusa, pertencente a toda uma comunidade, ou classista, aos advogados, é pessoal, é da família, é dos mais amigos.

E eu não me incluo nessas categorias. Acredito que poucos dos que aparecem na foto acima se incluam.

É em respeito ao luto dos mais próximos que entendi que não cabia comentar aqui um crime que ainda está para ser conhecido, desvendado, investigado. É certo que teve o (ou, um) autor já identificado. Mas isso basta? É tudo?

Enfim, abstraí do texto a tragédia para respeitar a dor dos mais próximos e porque o que me interessava, e interessa, é criticar o corriqueiro fechamento daquela via, justamente porque a motivação da hora é irrelevante. Outros fariam o mesmo por causas bem menos nobres. A Ponte tem sua função vandalizada por qualquer categoria e por qualquer motivo. Tem sido assim. Talvez continue sendo.

A propósito, ficou-me uma dúvida: os advogados estavam lá para exigir o cumprimento da Constituição Federal, de tratados de extradição entre Brasil e Argentina, do Código de Processo Penal, ou para exigir que fossem, no grito, desconsiderados?

2 comentários:

  1. O Brasileiro infelizmente é acomodado. Gostei do teu comentário, faleu o puxão de orelhas.
    Um abraço, Renato Tamayo

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  2. Muito bom,Fernando! Muito bem dito!
    Um abraço,Suzana Oyhenard.

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