segunda-feira, 18 de outubro de 2010

De vez em quando, tiro dois ou três dias sem internet para que a realidade próxima aflore aqui no blog. A tentação de entrar em guerrilhas sobre grandes temas deve ser, de vez em quando, contida - como nas tantas vezes em que começo a escrever sobre a iminente extinção das toradas na Espanha, crime dos politicamente corretos de lá, mas me seguro, por que penso: a quem isso tocaria?

A vida da aldeia, todavia, não ajuda. O que comentar? Perguntar quanto custou à Câmara o passeio de três vereadores ao zoológico, digo, ao Criatório São Braz, em Santa Maria? Sim, é verdade que foram ... Descobrir o que está por traz da indiferença do prefeito Sanchotene Felice (PSDB) em relação à campanha do Serra? Vá que seja influência do alcaide quaraiense, João Carlos Gediel, seu dileto amigo, um dos capitães da campanha de Dilma no PMDB gaúcho ... (Quaraí influenciando Uruguaiana, Deus nos livre!) Dar voz ao CDL e ao Sindicato do Comércio na briga que compraram porque a prefeitura liberara a realização de uma dessas feiras itinerantes no Caixeiral e os nossos empresários se sentem ameaçados pela competição? Pelo argumento que usam, os nossos cabanheiros também não deveriam mais levar animais às exposições de Alegrete e Itaqui, onde "não geram empregos nem riquezas" ... Nossos lojistas usam calçadas como extensão de suas lojas, tiram emprego de profissionais do ramo no ridículo papel de anunciantes-comentaristas em algumas rádios locais, indicam o secretário de Indústria e Comércio sem uma plataforma prévia que justifique a reserva do cargo e agora vêm reclamar do aviltamento da nobre atividade do Comércio! Ora, o dono da tal feira é um mascate, ou camelô, assumido, só isso ...

No fundo, só uma coisa importa - e justifica eventuais rompantes da personalidade de Sanchotene Felice: a solução do problema do saneamento básico. Isso é mais importante que tudo o mais. Isso é o que ficará. E, de quebra, fará de Uruguaiana um canteiro de obras por cinco anos. E um exemplo para o Rio Grande. (A reativação da usina térmica da AES também importaria, mas Dilma, quando ministra, deixou que os argentinos a inviabilizassem ...). O resto é o resto.

E a mim resta voltar à aldeia global, nem que seja para ir até Cachoeira do Sul colher a bela coluna de Gilberto Scopel de Morais (aquele da UDR, sim ...), no Jornal do Povo de ontem, domingo:

Resgates de nós mesmos
Gilberto Scopel de Morais

A semana que passou não poderia ter sido melhor. O primeiro motivo foi Serra ter alcançado empate técnico com Dilma nas pesquisas para presidente. Embora continue achando que estas análises são viciosas e não merecedoras de crédito, é bom vê-las impossibilitadas de negar a queda progressiva da ungida de Lula e a ascensão inexorável do governador de São Paulo.

Recebi agradáveis notícias de que o pavor já grassa nas hostes petistas. "Descambou!" é a palavra mais ouvida por lá. Está se encaminhando a derrota de Lula, pois quem está concorrendo é ele; Dilma não é nada mais que uma marionete atirada de paraquedas no colo dos brasileiros.

Faltam duas semanas para as eleições definitivas e nem quero falar mais no assunto para não dar azar. Vai ser muito bom ganhar aos 45 minutos do segundo tempo ou até na prorrogação. Se o Brasil vai bem, imaginem com um presidente de fundamento. Está em jogo o resgate de nós mesmos.

O segundo motivo foi o salvamento dos mineiros chilenos. Num mundo em que as notícias só refletem vícios, crimes da humanidade, destruição da natureza e corrupção moral, eis que um milagre se torna realidade, acima da desesperança e da descrença. Nas profundezas do Deserto de Atacama, 33 operários de extração de cobre ficaram presos para morrer miseravelmente. Então os homens da superfície para eles se voltaram, com tecnologia, celeridade de recursos e persistência, não importando o custo.

Esquecendo diferenças, ideologias, escalonamentos sociais, religiões e ódios passados, os filhos de Deus se uniram para olhar para baixo, para o fundo do poço, enfim, para seus irmãos. Não descansaram enquanto não os resgataram e, assim fazendo, resgataram a humanidade.

Cada um de nós se transportou lá para o fundo da mina lacrada e sentiu o horror do que estavam passando. A infindável claustrofobia, a falta de ar sem alívio de um inferno sem fogo e o medo de não voltar à superfície se espalharam pelo mundo. Quem sabe dos dramas dos que fraquejaram ou dos que tiveram coragem bastante para si e para os outros? Imaginem agora a sua alegria de estar à luz do sol e poder olhar as estrelas. O presidente chileno, que por sinal é uma pessoa de fundamento, disse que seu país nunca mais será o mesmo depois deste resgate. O mundo também não.

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