Por uma única razão, nunca ninguém sugeriu que José Alencar, nosso ex-vice, fosse tratar seus tumores no SUS: o velho era raposeiro, mas não dizia bobagens. Já Lula, disse pelo menos três - e não há motivo para não serem lembradas justamente na hora em que ele opta por se tratar de câncer no Sírio-Libanês, o mais caro hospital do Brasil (ou é um néscio, que não pode ser confrontado com o que diz?). Primeira, em 2009, de que ia aconselhar o presidente dos Estados Unidos: - 'Obama, faça um SUS. Custa mais barato'; a segunda, em 2010, quando brincou que tinha "vontade de ficar doente para ser atendido pelo SUS", decerto porque, já em 2006, sobre as realizações do seu primeiro mandato, concluíra: "- O Brasil não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde". O fato é que a oposição não pode ser acusada de preconceituosa por ter memória. E que Lula tem o direito, sim, de preferir ser atendido no Sírio-Libanês, ou onde quiser. Afinal, tem como pagar a conta. É um homem rico. (Que ficou rico, diga-se.)
Rica também é a reflexão de Ruy Castro, na Folha de São Paulo (1º/11):
Aprender a esperar
Durante oito anos, Luiz Inácio Lula da Silva não abriu uma porta de carro. Também não precisou se curvar para amarrar os cadarços, não deu um nó na gravata e nem precisou ir pessoalmente ao filtro se servir de água. Como presidente da República, tinha gente para ajudá-lo em todas as instâncias. E, assim que puxava uma cigarrilha, os isqueiros se atropelavam na sua direção.
Lula conheceu o poder absoluto. A frase de que nele nada pegava foi desafiada inúmeras vezes -denúncias e escândalos em série, companheiros caindo à sua volta, alianças com os piores nomes da política-, e ele continuou invicto. Não seria anormal que lhe passasse pela mente a sensação de onipotência.
O câncer de laringe que o destino colocou à sua frente é um duro golpe nessa sensação. Mesmo os que nunca fizeram juízo tão alto de si mesmos se perguntaram ao ouvir diagnóstico semelhante: "Por que eu?".
Embora a pergunta tenha uma resposta técnica (no caso, a combinação de tabaco e álcool), há sempre uma secreta sensação de culpa, de que fomos finalmente apanhados por algum malfeito. Descobrimos que não éramos tão onipotentes assim.
Um tratamento de câncer exige grande humildade do paciente, no sentido de submeter-se aos médicos, observar estrita disciplina e enfrentar a brutalidade da medicação. Não há espaço nem tempo para depressões. A doença é muito veloz e se aproveita de tudo para evoluir.
Lula teve sorte de seu tumor ter sido percebido cedo e de poder atacar logo o tratamento. Seu problema acontece uma semana depois das denúncias de que o tempo médio para um brasileiro comum, diagnosticado com câncer, começar a ser atendido pelo SUS é de 76 dias para a quimioterapia e de 113 para a radioterapia. O câncer dos brasileiros tem de aprender a esperar.
MEMÓRIAS DO DR. DAVID
-
RUDOLF GENRO GESSINGER
Esses dias, conversando com minha irmã, percebi que nossos pais estão
entordilhando e que os veteranos do nosso tempo já começ...
Há 2 dias
Nenhum comentário:
Postar um comentário